BOLETÍN DA REAL ACADEMIA GALEGA
Estudos e investigacións sobre Xaquín Lorenzo Fernández
ou Instituto proposto em 1935, imediatamente antes da guerra, seria o facto de agora se procurar a colaboração com Espanha, de olhos postos na capital, e não com a Galiza. O correspondente Centro Espanhol apenas surgiria em 1947, ao que parece para cumprir a formalidade. Ernesto Veiga de Oliveira fará a propósito, em 1968, a seguinte reflexão: «Devese notar que este propósito de cooperação lusoespanhola na investigação «etnologica» que esteve presente sobretudo no espírito do Professor Amândio Tavares [reitor da Universidade do Porto] ao lançar a ideia da criação do Centro, nunca chegou a ter realização efectiva, devido sobretudo ao desinteresse dos espanhóis, que se mantiveram sempre alheios a tal cooperação». Propunha mais que a designação Centro de Estudos de Etnologia Peninsular deveria, por uma questão de verdade, ser modificado para de Etnologia Europeia (OLIVEIRA 1968, 10). Neste mesmo ano de 1947, Mendes Corrêa (deputado da Assembleia Nacional desde 1943 e, portanto, ausente em Lisboa) convida Jorge Dias, então o único português detentor de um título académico em etnologia, e já com publicações nesta área, para se encarregar do Centro, que funcionava nas mesmas instalações da Sociedade. O programa apresentado por este novo responsável nada tinha a ver com a pobreza do anterior, deixando para outros a antropologia física e arqueologia, para se centrar na etnografia do espaço metropolitano, com horizonte internacional (LUPI1984). A equipa então formada, que no seu cerne trabalhará junta durante décadas, potenciou uma produção em quantidade e qualidade, com coerência teórica (do difusionismo inicial ao culturanismo, sempre com pendor historicista) e método, que logo se fará presente nas revistas já referidas, os Trabalhos da Sociedade e o Douro Litoral. Também a externalização deste trabalho conheceu um sucesso só comparável ao dos autores finisseculares, desfrutando Jorge Dias de um grande prestígio por toda a Europa, o que o levará a integrar por convite a direcção de diversas instituições internacionais. A partir de 1952 lecciona na Universidade de Coimbra, até 1956, de onde passa para o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, em Lisboa. Começa agora uma nova vertente da sua investigação, mais voltada para o espaço colonial, em que os movimentos de libertação e a possibilidade da guerra afloravam. O Centro de Estudos de Etnologia Peninsular será transferido definitiva e formalmente para Lisboa em 1963, deixando no Norte de Portugal um vazio qualitativo, mal preenchido por um persistente regionalismo serôdio. Sabemos, por referências cruzadas de Santos Júnior e por dedicatórias inscritas em livros, que estes homens do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular conheciam bem Xaquín Lorenzo. Nem de outra forma poderia ter sucedido dado frequentarem as mesmas instituições e reuniões, terem os mesmos conhecidos e interesses científicos afins, circulando num meio intelectual limitado como era o do Porto ou do Norte de Portugal. Mas na obra daquele não pressentimos qualquer mudança estimulada por esta nova postura perante a Etnografia.
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