BOLETÍN DA REAL ACADEMIA GALEGA
Estudos e investigacións sobre Xaquín Lorenzo Fernández
O ENCONTRO COM PORTUGAL NO CONTEXTO DO GALEGUISMO Será no último quartel do século XIX que a intelectualidade galega olhará para Portugal com esperança de encontrar fundamento e apoio para a sua causa, pelo menos no âmbito cultural, já que o reintegracionismo político apenas pairou como uma figura mais ou menos de retórica propagandística. O perigo português nunca parece ter existido de facto e o interesse carecia de reciprocidade. O que em Portugal se podia equacionar era uma federação ibérica e não uma relação particular apenas com a Galiza, até porque o foco desta polémica morava a Sul, na capital, para quem os galegos eram sobretudo um tópico, as figuras de baixa extracção essenciais ao quotidiano mas grotescas, caricaturadas por Rafael Bordalo Pinheiro. Nem o facto da discussão partir de um dos grandes políticos do tempo, vulto pioneiro da Etnografia Portuguesa, Teófilo Braga, ajudará a consolidar uma relação efectiva entre os intelectuais portugueses e os galegos. Também Oliveira Martins e um ainda muito jovem Leite de Vasconcelos terçarão armas na imprensa pelo ressurgimento da língua galega, erudita, reafirmando a fundamental identidade étnica, linguística e histórica dos dois povos «desde o Finisterre pelo menos até ao Mondego» (TORRES FEIJÓ 1999). Mas se olharmos mais de perto o muito e bom trabalho de arqueologia e etnografia que nas décadas da viragem de século se fazia no Norte de Portugal, e particularmente a proliferação de instituições e revistas que o divulgavam de forma continuada, reconheceremos que a Galiza está grandemente ausente das preocupações dos autores e das suas relações de trabalho. Quer percorramos as portuenses Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes (18891897) e a sua continuadora Portugália (18991908), quer nos voltemos para a vimaranense Revista de Guimarães (1884 ) ou para a mais tardia e fronteiriça Lusa (19171924), não se encontram colaborações de investigadores do Norte do Minho. Aquela relação desigual, mais desejada e bem acolhida na Galiza do que pensada e assumida em Portugal, entrará em nova fase no final da primeira grande guerra e início dos anos vinte, época muito sensível aos pequenos nacionalismos, marcando agora presença figuras destacadas como Leonardo Coimbra ou Teixeira de Pascoais e, em geral, os homens da Renascença Portuguesa. Ainda que ideologicamente confusa, esta adesão à causa galeguista podia mais facilmente ser sentida, uma vez que se tratava sobretudo de homens do Norte, com sentido de periferia e maior proximidade à Galiza (MEDEIROS 2003; 325328). No campo mais restrito que nos interessa de perto, o do conhecimento e da colaboração entre investigadores galegos e do Norte de Portugal que enquadrem a entrada em cena de Xaquín Lorenzo, devemos reconhecer que o papel cimeiro coube a Rui de Serpa Pinto (19071933). O despontar da sua actividade injectará, no final da década de vinte, novo alento e pragmatismo a esta velha relação onírica. A Sociedade Portuguesa de
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