210 joletin de la Real 5 cademia Gallega
N?o me espraio aqu? fazendo considera??es sobre o uso da figa na
supersti??o, porque estou preparando um trabalho sobre o assunto, para
o qual possuo j? muitos materiais portugueses e estrangeiros. Basta lem
brar, por un lado, que a figa n?o s? evita quebranto (t), que p?de ser
produzido por mau olhado (2), e por palavras de excessivo louvor (3),
mas exprime desprezo (4), e se contrap?e a pragas, e por outro lado que
no Museu Ashni,oliano ha um amuleto d' essa f?rma, entre amuletos
egipcios, e outro no Museu de Bolonha, entre amuletos etruscos: Elworthy,
The evil eye, p. 255. A figa aparecen em Ivi?a, entre antigualhas cartagi
nesas do sec. vII (ou vi) ao II a. C., e igualmente como cabo de alfinetes
de penteado: vid. A. Vives, Arte cartaginesa, est. xxviu e xxx. Ela tam
bem foi conhecida no territorio lusitano na epoca romana: Religioes da
Lusitania, III, 525529, e est? documentada na tradi??o portuguesa ha
alguns seculos. Na Galiza gozou sempre a figa de muita importancia :
vid. o rico Cat?logo de los azabaches compostelanos de G. J. de Osma, Ma
drid 1916, com quem me encontrei na cita??o que acima fiz de Elworthy,
cuja obra eu j? conhec?a e extrat?ra antes de ler o Cat?logo. Quando em
19o2'estive na Galiza, o meu saudoso amigo D. Andr?s Mart?nez Salazar,
querendo que eu trouxesse de l? uma lembran?a etnografica, presenteou
me com urna figa de azeviche analoga a algumas das que se reproduzem
no Cat?logo de J. Osma: hoje a conservo no Museu Etnologico Portu
gu?s, em Belem.
A figa ? bastante conhecida por toda a Europa, sobretudo na Italia
e na Peninsula Iberica: cfr. Sittl, Die Gebcrde der Griecher und R?mer,
p. 102103 e 123. Em alguns paises degenerou em brinquedo.
Nos monumentos medievais, tanto religiosos como profanos, colo
cavarase n?o raro figuras ou objectos apotropaicos, isto ?, destinados a
defend?los da ac??o misteriosa e mal?vola que o homem e os espiritos
pudessem exercer neles (5). A pedra de Verin, com as suas duas ligas e
respectiva inscri??o, deve pertencer ? classe d' essas tutelas sobrena
turais.
J. LEITE DE VASCONCELLOS.
Lisboa, 28 de Julho de 1924.
(1) Acerca do quebranto vid. Adolpho Coelho in Rev de se. nat. e soc., III, 117 e 169
(2) Vergilio, Bucolic. ni, toa.
(3) Vergilio, Bucolic. VII, 2728.
(4) Em hesp. dar higas; em portug. dar figas, fazer figas; em franc.faire la figue ?
quelqu' un; en italiano far le fiche.
(5) Cf. o que escrevi no Archeologo Portug., XXIII, 241, onde, na nota 2 de p. 243.
cito o Evil eye de Elworthy.