Estudos e investigacións sobre Xaquín Lorenzo Fernández
BOLETÍN DA REAL ACADEMIA GALEGA
Um outro campo que para Xaquín Lorenzo parece totalmente desconhecido, malgrado a proximidade de princípio a alguns dos seus trabalhos, é o dos estudos de linguística portuguesa levados a cabo a partir das Universidades de Coimbra e de Lisboa. Na primeira sobressaía a figura de Manuel Paiva Boléo (19041992), aluno de Fritz Krüger em Hamburgo, que a partir de 1940 irá desenvolver um intenso trabalho de investigação linguística segundo a metodologia Coisas e Palavras. O seu Inquérito Linguístico, que foi enviado por correspondência (1942) e que também centenas de alunos da cadeira de Linguística Portuguesa preencheram, deu origem a um vastíssimo manancial que, em última análise, deveria apoiar a construção do Atlas Linguístico de Portugal. A Revista Portuguesa de Filologia e as muitas teses de licenciatura apresentadas com o mesmo método aplicado aos mais variados temas dãonos uma mostra deste labor. Em destaque, como paradigmático, deve ser tido o trabalho de doutoramento de Herculano de Carvalho Coisas e palavras. Alguns problemas etnográficos e linguísticos relacionados com os primitivos sistemas de debulha na Península Ibérica, separata da revista Biblos, volume 19, publicada em Coimbra, em 1953. Mas também em Lisboa, na esteira de Leite de Vasconcelos, se trabalhava a linguística portuguesa, sendo objectivo enunciado no primeiro volume da Revista de Filologia, de 1932, a elaboração do Atlas Linguístico de Portugal e Ilhas, a que virá a estar associado o então jovem investigador Lindley Cintra (19251991). Num momento de harmonia e cooperação entre estes dois centros, os três autores mencionados, Manuel Paiva Boléo, José G. Herculano de Carvalho e Luís F. Lindley Cintra, apresentam ao III Colóquio Internacional de Estudos LusoBrasileiros, realizado em Lisboa em 1957, uma comunicação intitulada Projecto de um atlas linguísticoetnográfico de Portugal e da Galiza, que ficou por concretizar. Enquanto a ciência académica avançava integrada nos movimentos europeus, a outra etnografia, com pendor regionalista, na linha do que se vinha fazendo há algumas décadas, continuava o seu percurso, sempre mais do mesmo, produzindo uma substancial acumulação de informação publicada e de materiais que encheram os museus locais, as Casas do Povo, as sedes de associações culturais e ranchos folclóricos, etc. Apesar da cultura material ser a área temática mais trabalhada por Xaquín Lorenzo e também a mais desenvolvida pelo grupo de Jorge Dias, aquele continuou preferencialmente vinculado à etnografia que vinha de trás, certamente pelas ligações pessoais a velhas amizades. Entre a presença no Porto para os colóquios de 1940 e a participação em 1956 no Congresso de Etnografia e Folclore, de Braga, apenas enviará para Portugal artigos de arqueologia, três dos quais dados à estampa na Revista de Guimarães. Em seguida chegará um outro artigo de arqueologia a publicar na Arqueologia e História, edição da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de Lisboa, instituição da qual foi sócio correspondente. Depois daquele longo hiato em colaborações de temática etnográfica, vemos Xaquín Lorenzo regressar a uma mais assídua presença, retomada, como dissemos, pela apresen225 Nº 365