?MENOS MAL QUE NOS QUEDA POR T U G A L ? Teresa Soeiro
Neste ano de 2004, em que a Real Academia Galega dedicou o Día das Letras Galegas a Xaquín Lorenzo Fernández, multiplicamse as publicações biobibliográficas que lhe são dedicadas, todas elas com referências às suas ligações a instituições e investigadores do Norte de Portugal, com quem partilhou trabalho, lutas, sonhos e companheirismo. Relação longa, começada no dealbar da década de trinta do século vinte, irá sobreviver a diferentes tempos políticos e culturais, ancorada em firmes convicções e amizades. Não foi, certamente, um caminho original. Desde a segunda metade de oitocentos que os eruditos galegos olhavam para o país vizinho como um amparo à sua luta regionalista ou independentista. Portugal era o exemplo e a prova real de que tal via fora possível no passado, constituindose numa identidade duradoura, desejo para o qual também eles agora despertavam. Em momento avançado deste ambiente, em que política e cultura andavam francamente a par, enquadramos a primeira etapa da relação de Xaquín Lorenzo com Portugal, trazido pela mão de conhecidos galeguistas das gerações precedentes. Em 36 a guerra interromperá brutalmente estas relações, mas não as quebrou, e veremos pouco depois o investigador de etnografia e arqueologia que Xaquin Lorenzo foi mandar trabalhos, tantas vezes escritos em galego, para revistas científicas, participar em reuniões, fazer visitas de estudo, ser aceite como sócio de diferentes agremiações destas áreas do saber, trocar correspondência e publicações com colegas portugueses. A liberdade reconquistada em Portugal em 74, e toda a movimentação que a preparou na segunda metade da década de sessenta, tornouse numa nova esperança para os que pugnavam pela pátria galega, independente ou no quadro de uma Espanha de nações. Mais uma vez os olhares se voltavam animosos para o Sul do Minho, à procura de legitimação e sentido, recuperando muito do imaginário anterior à guerra civil. E a liberdade não tardou a chegar também para a Galiza. Então, Xaquín Lorenzo terá obrigações redobradas com a sua terra, tarefas ingentes que o absorverão. Em Portugal muitos dos seus velhos amigos haviam já desaparecido, os novos investigadores, com raras excepções, conheciamno mal, e os contactos parecem terse progressivamente deslaçado, excepto com o seu sempre parceiro Santos Júnior, com quem trocará visitas e manterá correspondência até ao final. Certo é, não levando em conta o anacronismo, que toda a sua vida poderia ter dito com verdade: «menos mal que nos queda Portugal».
217 Nº 365